a saudade.
"...Não sei se saudade tem cor. Dizem que sim. O que eu sei é que ela tem forma. Tem gosto. Tem cheiro. E peso
também. E, acredite, ela tem asas! Se não, como nos transportaria tantas vezes a lugares tão distantes? E sei
ainda que ela se agiganta quando mais tentamos diminuí-la. Sei que ela dói de dor intensa e sem remédio. Se
não fosse ela, não sei se teríamos consciência do tamanho da importância das pessoas pra gente. Porque quando
amamos alguém, a saudade já chega por antecipação, sorrateira, disfarçada de algo que não conseguimos
decifrar. É aquela dor fininha de não sei o quê, a angústia boba que nos invade só de imaginar a separação. E
a gente fica meio sem saber o que fazer. Mas é assim... É uma dor que gostamos de sentir, um sabor que
queremos provar, é algo que não sabemos explicar, mas é quase palpável. É amor disfarçado de muita coisa. São
emoções guardadas bem lá no fundo. Saudade… do que foi e do que vai ser. Saudade que nos acompanha pra
diminuir a solidão e que nos mostra, sobretudo, que estamos vivos. Aprendi ainda que saudade não mata. É só
quase. A gente pensa que vai morrer, mas sobrevive sempre, porque ela traz escondidinha nela uma outra coisa
que chamamos de esperança, que nos ajuda a caminhar, porque saudade, como o amor, não é cega, saudade vê mais
além. E, muitas vezes, ela tem nome. A minha, tem vários..."
Letícia Thompson